sexta-feira, 31 de março de 2017

O ALIENISTA


Segundo Nicolau Sevcenko, no seu livro "Literatura como Missão", “A palavra organizada em discurso incorpora em si (....) toda sorte de hierarquias e enquadramentos de valor intrínseco às estruturas sociais de que emanam.” (p.19-20) . Assim, num simples gesto de leitura, entrecruzam-se histórias e sociedades diferentes, em distintos momentos de sua evolução. O diálogo que se estabelece coloca em contato distintas experiências sociais e individuais, antigas e contemporâneas, através do suporte material em que se constitui o texto do livro, e o repertório do leitor. Nessa perspectiva dialógica estabelecida entre o texto escrito e os seus leitores, o presente trabalho busca observar as relações estabelecidas entre a sociedade brasileira (final do século XIX) e a literatura do período representada por Machado de Assis no conto O alienista.
Os escritos de Machado de Assis têm originado ao longo dos anos um considerável número de estudos. São diversas leituras desenvolvidas, seja por críticos literários ou estudiosos de áreas próximas, sendo possível encontrar desde análises que privilegiam um estudo psicológico do autor a partir da criação de seus personagens fictícios, Lúcia Miguel Pereira , ou mesmo aquelas que percebem a narrativa como reflexo do real. Diante de tão variadas possibilidades destacaremos àqueles estudos que procuram refletir sobre autor e obra em um determinado contexto histórico-social.
Nesta perspectiva de análise da obra literária enquanto resultado do julgamento de um ator social, utilizamos o pensamento de Sidney Challoub que afirma encontrar nos escritos machadianos não só o pensamento do contador de histórias mas, o seu vínculo com o papel de historiador através das estratégias literárias utilizadas pelo narrador “...inventou personagens, diálogos e,(....) , narradores que pareciam viver e expressar apenas aquilo que era rigorosamente compatível com as expectativas dos leitores/senhores. Ao fazer isso, o bruxo realizou o objetivo, todo seu, de dizer as verdades que bem quis sobre a sociedade brasileira do século XIX.” . Dessa maneira, analisamos o enredo do conto o alienista enquanto discurso possível, e não como a criação de um gênio que transcende o seu tempo e espaço social.
Publicado no jornal A ESTAÇÂO entre 1881 e 1882, a temática central conduz o leitor a uma eterna reflexão sobre os limites entre a insanidade e a razão; o poder da palavra, a loucura da ciência e as relações estabelecidas na sociedade do período. Neste caso, ao utilizar a questão da loucura enquanto uma alegoria, o conto machadiano encerra novas possibilidades de estudo, por ser um relato que apresenta ao leitor os rituais de subserviência, bajulação e clientelismo presentes no Brasil em finais do século XIX. Em contrapartida, o texto questiona o poder das teorias científicas evolucionistas, positivistas e sociodarwinistas trazidas da Europa que, neste momento histórico, indicariam as respostas para todos os males desta civilização em busca do progresso.
Em linhas gerais, o conto (dividido em treze capítulos) apresenta a cidade de Itaguaí; e como a chegada do médico Simão Bacamarte, apresentado enquanto o “... filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanha...” (p.273) , modificaria as relações existentes valendo-se do poder conquistado através da utilização dos experimentos e pensamento científico.
No primeiro momento, deparamo-nos com a personalidade científica de Simão Bacamarte presente mesmo na escolha da sua esposa “....D. Evarista era mal composta de feições, longe de lastimá-lo, agradecia-o a Deus, porquanto não corria o risco de preterir os interesses da ciência na contemplação exclusiva, miúda e vulgar da consorte”.(p.273-274). Com essa afirmação, o autor reforça a ideia do conto enquanto uma paródia ao cientificismo presente nas ideias transplantadas para o Brasil, através dos representantes da elite local, como o Simão Bacamarte, que desenvolveram seus estudos na Europa.
Dessa maneira acompanhamos a criação da Casa de Orates, ou Casa Verde, onde o alienista define o seu objetivo “O principal nesta minha obra da Casa Verde é estudar profundamente a loucura, os seus diversos graus, classificar-lhe os casos, descobrir enfim a causa do fenômeno e o remédio universal.” (p.277).
Durante o processo de seleção e classificação dos loucos, que serão vários durante a história, notamos outra face do conto, dentre os alienados percebemos os loucos “por amor”, os com mania de grandeza que recitavam toda a sua genealogia, ou faziam discurso em latim e grego, os casos de monomania religiosa entre tantos outros . Assim, o asilo se transforma não somente em um local de enclausuramento dos loucos mas um retrato da sociedade vigente com seus extratos sociais delimitados e classificados.
Na sequência da catalogação dos loucos, os critérios utilizados são tantos que em determinado momento, pessoas consideradas “normais” se tornam objeto de estudo. A desconfiança em relação aos procedimentos utilizados que não estabeleciam com clareza quem seria alienado gera, em certo momento, a revolta da população local. A Revolta dos Canjicas liderada pelo barbeiro Porfírio recebe adesão não só da população, como também dos Dragões e de alguns vereadores. Neste processo, contemplamos toda a nova estrutura criada por Machado, o barbeiro em determinado momento percebe “despontar em si a ambição do governo; pareceu-lhe então que, demolindo a Casa Verde, e derrocando a influência do alienista, chegaria a apoderar-se da câmara, dominar as demais autoridades e constituir-se senhor de Itaguaí” (p.302).
Grande exemplo da vida real, o barbeiro que na organização social estipulada não teria como ascender socialmente, emprega a revolta em benefício próprio mais de uma vez. Após vencer a contenda em relação à Casa Verde, novamente o barbeiro Porfírio, induz Bacamarte a questionar seu compromisso com a ciência. Esta deveria estar articulada à política e ambas devem estar voltadas para a sociedade de Itaguaí: “Unamo-nos e o povo saberá obedecer” (p.309). Porém, a “política legítima”, não é o propósito da pesquisa de Bacamarte, e sim a maneira como o barbeiro modificou a situação em benefício próprio alcançando o posto de “protetor da vila”, e ao mesmo tempo articulando novas alianças de poder que não impediram uma nova revolta gerada mais uma vez por um barbeiro, João Pina, e consequentemente a restauração através de uma força mandada pelo vice-rei.
Após sucessivas revoltas e mudanças de poder, a única instituição que permanece é a Casa Verde; e o alienista na fé inabalável de estabelecer em Itaguaí o primado da razão, continua desenvolvendo as suas teorias e apreendendo em diversos momentos alguns espécimes alienados conforme o postulado científico vigente. Dessa maneira, a ciência que seria um dos mecanismos de manutenção dessa sociedade, transforma-se no seu maior questionador; aquele que deixa transparecer a inutilidade das relações de favor através do “homem de ciência” Simão Bacamarte. Este percebe a falência do sistema real e como não o aceita termina por se colocar enquanto o único alienado da estória.
Há na obra uma grande preocupação em fixar a problemática do homem universal, buscando inspiração nas ações cotidianas e no homem comum.
O autor penetra na consciência das personagens, sondando-lhes o funcionamento e captando os impulsos contraditórios dos seres humanos, desmascarando o jogo das relações sociais, enfatizando o contraste entre a essência e a aparência, em que o sucesso financeiro é o objetivo primordial. O homem deixa de ser o centro, mas passa a ser parte de um sistema. Há algumas características marcantes no conto, que não podemos deixar passarem despercebidas: apreensão da realidade, o não-eu em nível de realidade e descrição, a precisão de detalhes, ocupando o lugar central enquanto técnica narrativa.
O conto apresentaria o grande paradoxo da sociedade brasileira no século XIX. Neste período, a ciência teria estabelecido o primado da razão e do racionalismo na Europa. Essas ideias cientificistas, positivistas, evolucionistas e sociodarwinistas seriam transplantadas para o Brasil de maneira a coexistirem com as estruturas vigentes. Dessa maneira, as análises sociais presentes no conto, principalmente em relação ao comportamento dos personagens que utilizam a lisonja e a bajulação para alcançarem seus objetivos recriariam o conceito de loucura como uma paródia à ordem desejada. Segundo José Maurício G. de Almeida no seu texto Da Humana Comédia ou No Teatro em Itaguaí, “O alienista não é uma paródia da ciência psiquiátrica ou dos manicômios, no sentido realista do termo, mas uma alegoria, elaborada com a mais fina e penetrante ironia sobre a natureza humana e os desconcertos do mundo”. (p.172)
Utilizando novamente o pensamento de Nicolau Sevcenko, “A literatura (...) fala ao historiador sobre a história que não ocorreu, sobre as potencialidades que não vingaram, sobre os planos que não se concretizaram. Ela é o testemunho triste, porém sublime dos homens que foram vencidos pelos fatos.” . Nesse sentido, ressaltamos os laços existentes entre ficção e realidade enquanto mais um testemunho necessário à compreensão da história propriamente dita, com a diferença de estarmos utilizando outra forma de discurso que, às vezes, fornece voz às camadas “silenciadas” na historiografia tradicional.


sexta-feira, 24 de março de 2017

AQUELES OLHOS VERDES


Olhos que recitam poesias, 

Brilho do mar emprestado, 
Colibris esvoaçantes 
se buscando




Lado a lado. 

Visão multicolorida, 
Janelas abertas da alma, 
O real e o sublime 
se defrontando 
Na mesma calma. 

Espelhos cristalinos prisioneiros 
Que à moldura facial encantam; 
Líquidos poemas que se transformam 
em canção. 

Esmeraldas lapidadas 
Na singeleza de um sorriso cativante; 
Sonhos que partem rumo ao infinito... 
Mas retornam.


sexta-feira, 17 de março de 2017

LENDA DA SERRA QUE CHORA


Num reino distante o soberano tinha um único filho, o príncipe Igor, rapaz belo, inteligente e amado por todos os súditos. No reino vizinho havia duas princesas, filhas do rei que governava e era viúvo: Sâmia, a mais nova e Miléia, do primeiro casamento. Ambas foram criadas pelo pai com muito amor e carinho; este não demonstrava mais atenção nem a uma nem a outra. Recebiam ambas o mesmo tratamento afetuoso.
Os dois soberanos haviam combinado que o príncipe Igor e a princesa Miléia se casariam quando atingissem a idade propícia, mas os dois jovens nunca tiveram conhecimento deste acordo. Um dia, a princesa Sâmia e suas damas de companhia cavalgavam pelos campos e, ignorando os limites do reino, atravessaram o rio que separava os domínios do dois soberanos. Ao avistar o grupo de amazonas o príncipe Igor chamou seus cavaleiros e foram ao encontro delas e, de maneira gentil e cordial, dirigiu-se à princesa perguntando-lhe sobre os motivos que a traziam ao território do seu pai.
Encantada pela beleza e educação do jovem a princesa só conseguiu responder que não percebera ter ultrapassado os limites territoriais e, portanto, se desculpava pelo equívoco.
O príncipe, gentilmente, se prontificou a acompanhá-la no trajeto de retorno. E assim ambos caminharam lado a lado, conversando animadamente, até chegar à margem do rio, onde montaram em seus respectivos animais.
Sabiam estar apaixonados e não conseguiam negar ou disfarçar este fato. Combinaram um novo encontro ali, na curva do rio, naquele recanto florido da planície que se estendia até no sopé da montanha.
Ao tomar conhecimento do ocorrido o rei envia o príncipe Igor para uma longa e demorada missão num país distante. E imediatamente comunica o fato ao soberano, pai da princesa Sâmia, que agradece, mas nada transmite à sua filha.
Mas uma das damas de companhia da princesa Sâmia, que ouvira e compreendera a conversa do rei, decide interferir. Chama um dos guardas palacianos e pede que ele rapte a princesa Miléia e a esconda num vale distante, explicando-lhe que estava salvando sua vida, pois uma terrível conspiração para derrubar o governo de seu pai estava sendo tramada.
O príncipe Igor retorna da missão e, para ganhar tempo, o pai lhe dá outra tarefa igualmente importante. E, no mesmo dia, os dois reis decidem marcar o casamento do príncipe Igor e da princesa Miléia para quando ele voltar. O desaparecimento da princesa Miléia está sendo mantido em sigilo pelo pai.
Mas, através de um dos seus cavaleiros, o príncipe Igor fica sabendo do plano do pai e também do desaparecimento da princesa Miléia, não comentado pelo pai dela. Naquela noite ele parte a galope para se encontrar furtivamente com a princesa Sâmia, que vai esperá-lo na curva do rio.
Ao se ver diante da amada ele explica o plano dos dois soberanos. Combinam se encontrar do outro lado do grande mar, no alto da montanha, pois ele está incumbido de conduzir um povo numa expedição de conquista e ocupação daquela ainda pouco conhecida região. Despedem-se e retornam aos seus respectivos palácios.
Mas o plano do príncipe Igor é descoberto pelo seu pai, que o chama e informa que a sua missão será adiada até o início do ano seguinte. E sem que o príncipe soubesse a expedição partiu naquela noite, sob comando de um dos sobrinhos do rei. A princesa Sâmia, animada pela esperança de ser feliz ao lado do seu amado, parte às escondidas e, disfarçada, cruza o grande mar. Após intensas dificuldades ela alcança a grande montanha e, no alto, se depara com uma povoação.
É recebida com muita alegria e surpresa pelos nativos, que fazem festa e cantam comemorando a sua chegada. Acostumados a viver praticamente nus em contato direto com a Natureza eles ficam admirados pela beleza da jovem branca, suas vestimentas e seus longos cabelos louros. Não conseguem compreender que uma pessoa possa ter cabelos daquela cor e só na luz do Sol encontram um elemento de comparação. E assim, passam a considerá-la uma deusa e a chamá-la de Guaraciaba, “cabelos do Sol”. Constroem para ela uma simples e aconchegante cabana numa pequena elevação a poucos metros da entrada da aldeia; e satisfazem com imenso prazer todos os seus gozos e caprichos. Ela se adapta rapidamente àquela forma de vida; transmite-lhes alguns dos hábitos de seu povo e, à noite, sempre diante da fogueira, conta-lhes histórias fantásticas do mundo que eles não conhecem.
Narra os acontecimentos que a levaram até aquela região e declara que representantes do seu povo estão para chegar e no comando vem o seu noivo, com quem se casará.
Todos se alegram com estas notícias e passam a vigiar todos os dias na esperança de avistar logo os tão esperados visitantes. Muitos meses decorrem sem que se tivessem notícias dos aventureiros. Os mensageiros informam apenas que homens brancos chegaram em grandes canoas e se instalaram em vários pontos do litoral e no planalto.
A princesa se impacienta com a falta de notícias. Não consegue imaginar o que pode ter ocorrido e se deixa invadir pela tristeza.
Mas, numa tarde, homens brancos se aproximam da aldeia numa expedição de reconhecimento. Os nativos correm a recebê-los, para conduzi-los à princesa. Surpresos pela festiva recepção eles se deixam levar até a cabana da deusa Guaraciaba. Mais surpresos ficam quando a reconhecem. Como sabiam do envolvimento dela com o príncipe Igor eles narram os fatos de que têm conhecimento. Informam que o príncipe se casara com a princesa Miléia, por determinação do seu pai, que alegara ter a princesa Sâmia desaparecido. Seu pai descobrira que a princesa Miléia tinha sido raptada por uma das suas damas de companhia e fora, por um dos guardas, escondida no alto da montanha. Com a ameaça de mandar enforcar a dama de companhia e o guarda os dois soberanos conseguiram convencer o príncipe Igor a aceitar o matrimônio.
A princesa se desespera. Todos os seus sonhos de felicidade se desvanecem naquele momento. Na aflitiva angústia de ver perdidas todas as suas esperanças ela sai correndo pela montanha, chorando alucinadamente. Ninguém conseguiria conter-lhe o desespero.
No dia seguinte, bem cedo, os nativos decidem sair à sua procura. Dividem-se em grupos e seguem em várias direções. Encontram, e ficam conhecendo, inúmeras cachoeiras cuja existência ignoravam e, na sua simplicidade, atribuem a origem das quedas d’água às lágrimas copiosas que a deusa houvera derramado.
Entristecidos, eles continuam as buscas por dias e semanas. A cada nova cachoeira encontrada confirma-se a certeza de ter a deusa passado pelo local. Mas ela não seria encontrada, jamais. Guardaram na memória a bela imagem da deusa branca de cabelos do Sol, passando a cultuá-la em seus rituais. E até hoje chamam a região de Mantiqueira, “serra que chora”.

sexta-feira, 10 de março de 2017

ROMANTISMO



Na prosa e na poesia, o Romantismo brasileiro comprometeu-se com o ideal de criar uma literatura genuinamente brasileira, livre da influência dos moldes literários europeus.

Romantismo brasileiro surgiu poucos anos depois de nossa independência política, em 1822. Esse fato histórico aflorou nos intelectuais da época uma grande necessidade de criar uma cultura genuinamente brasileira e antilusitana, distante dos moldes literários portugueses, que não retratavam a realidade de nosso país. Além de ser uma reação à tradição clássica, o Romantismo foi também um movimento anticolonialista que em muito contribuiu para a formação de nossa identidade cultural.
Em virtude da necessidade de criar uma literatura identificada com nossas raízes históricas, linguísticas e culturais, nossos escritores românticos desenvolveram aquele que seria um dos traços essenciais do Romantismo: o nacionalismo. A partir do nacionalismo, tema que orientou o movimento, outras temáticas puderam ser exploradas, entre elas o indianismo, o regionalismo, a pesquisa histórica, folclórica e linguística, além da crítica aos problemas nacionais. O marco inicial do movimento ocorreu com a publicação da obra Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães, em 1836, famosa por seu prológo que anunciava a revolução literária romântica.
Tradicionalmente, o Romantismo brasileiro é dividido em três diferentes fases, também chamadas de gerações. Essa divisão diz respeito, sobretudo, à poesia romântica, já que a prosa do período reúne características das três gerações. São elas:
● Primeira geração: nacionalista, indianista e religiosa. Nessa fase, ganharam destaque os escritores Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias;
● Segunda geração: o sofrimento, a dor existencial, a angústia e o amor sensual e idealizado foram os principais temas da literatura produzida durante a segunda fase do Romantismo. Seus principais representantes foram Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire;
● Terceira geração: o Condoreirismo, importante corrente literária que marcou a terceira geração da poesia romântica no Brasil, teve como principal representante o poeta Castro Alves, cujo engajamento na poesia social lhe rendeu a alcunha de “poeta dos escravos”.
A prosa romântica, igualmente influenciada pelo movimento anticolonialista e antilusitano, foi o principal instrumento de construção da cultura brasileira. Muito mais do que a poesia, o romance engajou-se no projeto nacionalista, buscando descobrir e conhecer os espaços nacionais. Da necessidade de explorar a selva, o campo e a cidade, surgiram o romance indianista e histórico, o romance regional e o romance urbano:
● Romance indianista e histórico: uma das principais tendências do Romantismo brasileiro, o indianismo encontrou no nativo brasileiro a sua mais autêntica expressão de nacionalidade. Ganharam destaque nessa fase autores como José de Alencar e Gonçalves Dias;
● Romance regional: Mais do que o romance indianista e o romance urbano, o romance regional comprometeu-se com a missão nacionalista de conhecer e retratar os quatro cantos do Brasil. Como não havia um modelo europeu no qual pudessem espelhar-se, os escritores do romance regionalista construíram seus próprios modelos, fato que contribuiu inestimavelmente para a nossa autonomia literária. Nesse período, ganharam destaque os escritores José de Alencar, Franklin Távora e Visconde de Taunay;
 Romance urbano: por colocar em discussão os problemas e valores vividos pelo público nas cidades e por retratar a realidade e o cotidiano da burguesia, o romance urbano alcançou imensa popularidade entre os leitores brasileiros. Dessa fase, destacaram-se os escritores Manuel Antônio de Almeida e José de Alencar.
Para que você conheça melhor as diferentes fases da poesia e da prosa romântica, o Brasil Escola preparou uma seção dedicada ao Romantismo brasileiro. Nela você encontrará vários artigos sobre as principais características do movimento, bem como seus principais escritores e obras. Boa leitura e bons estudos! Não deixe de conferir os textos dispostos logo mais abaixo!


sexta-feira, 3 de março de 2017

REALISMO

Influenciado pelas teorias materialistas, o Realismo surgiu na Europa, na segunda metade do século XIX. No Brasil, seu principal representante foi o escritor Machado de Assis.


A segunda metade do século XIX foi marcada por um período de profundas mudanças no modo de pensar e agir das pessoas. As contradições sociais começaram a aparecer em decorrência da Revolução Industrial, e todos esses fatores influenciaram as artes de um modo geral, sobretudo a literatura. O egocentrismo romântico deu lugar às correntes cientificistas que buscavam explicar fenômenos sociais, naturais e psicológicos sob o viés de teorias materialistas. A subjetividade, comum ao Romantismo e ao Simbolismo, foi substituída pela objetividade das ideias do Realismo.
O Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo apresentam aspectos comuns: o resgate do objetivismo na literatura, o gosto pelas descrições e o combate ao Romantismo. Entre os três movimentos, o Realismo foi o que buscou uma maior aproximação com a realidade ao descrever os costumes, os conflitos interiores do ser humano, as relações sociais, a crise das instituições etc. Todas essas questões eram tratadas à luz das correntes filosóficas em voga na época, sobretudo o positivismo, o determinismo e o darwinismo (essa última influenciou, principalmente, a literatura naturalista).
O marco do Realismo na Europa foi registrado em 1857 com a publicação do romance Madame Bovary, do escritor francês Gustave Flaubert. No Brasil, a obra Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis, é apontada como o primeiro romance realista brasileiro, muito embora essa tendência literária tenha dado seus primeiros sinais em nossa literatura na metade do século XIX, época em que o Romantismo ainda figurava como principal estética. Essa nova postura artística proporcionou uma profunda transformação da linguagem. Entre as principais características da linguagem realista, podemos destacar:
● Objetivismo;
● Linguagem culta e direta;
● Narrativa lenta, que acompanha o tempo psicológico;
● Descrições e adjetivaçções objetivas, com a finalidade de captar a realidade de maneira fidedigna;
● Universalismo;
● Sentimentos, sobretudo o amor, subordinados aos interesses sociais;
● Herói problemático, cheio de fraquezas;
● Não idealização da mulher.

Machado de Assis é considerado o maior representante da prosa realista no Brasil
Todas essas características opunham-se fortemente às características da linguagem romântica, marcada pela subjetividade e pelo individualismo. O Realismo propôs a investigação do comportamento humano e denunciou, por meio da literatura, os problemas sociais, abandonando assim a visão idealizada do Romantismo. No Brasil, o principal representante da prosa realista foi Machado de Assis, embora outros escritores também tenham produzido obras de grande relevância para o período. Foi na obra daquele que é considerado o maior escritor brasileiro de todos os tempos que o Realismo realizou-se com perfeição nos planos técnico e temático.
Para que você conheça mais sobre uma das mais importantes escolas literárias de nossa literatura e da literatura universal, o Brasil Escola preparou uma seção dedicada ao Realismo. Nela você encontrará artigos sobre suas características e principais escritores, artigos que têm como objetivo discutir a importância da estética realista em nossa prosa e sua contribuição para a formação da moderna literatura brasileira. Boa leitura e bons estudos!